quarta-feira, 25 de julho de 2012

Das faculdades poéticas

A Roberto Pontes


Que pode o
                 poeta
senão dispor-se
          a despir suas substâncias
                       ao Poema?


O poeta fala carne
          engole chumbo
                        planta seda


O poeta sabe à mister
                               e a mistério


O poeta sonha
                     um metro
                            de essência


em seu limiar


risca a prata
cala o medo


tange a bala
      de sua arma
                        letal


               às vezes dedica-se
                                      ao fato


outras (detido por todos os
                    sentidos que o permeiam)


                      prende o gesto
                                fabrica a mica
                                      gera o fogo.

Daniel Óliver

Um comentário:

  1. PEQUENA ANÁLISE: O poema é feito da mesma matéria de que é feito o ser do poeta. Esta, a grande síntese deste poema forte, cheio de metáforas bem ao estilo de Gullar. O poeta aqui aparece como um grande mago, ou melhor, um grande artesão, que tece os seus versos, a partir do concreto, do vivido, por isso, imagens tão fortes como o chumbo, a prata (coisas pesadas, como a vida pode ser). Mas é destas matérias que ele, na observação da vida, "prende o gesto", molda-o e "fabrica a mica" para então, na beleza e na simplicidade do poema, "gera[r] o fogo". Creio estar nesse último elemento, a maior das simbologias deste poema: o fogo é dos mais primitivos elementos que o homem conhece, ele é simples porque é apenas chama, mas a chama é ardente e pode queimar, como pode purificar, eis a função do poema!

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