terça-feira, 4 de setembro de 2012

ALARANJADO



Certas tardes nos envolvem na observação enebriante da paisagem de pensamentos leves, soltos e, ao mesmo tempo, complexos, condensados, amarrados.





INSONES



Esta noite parece haver pessoas

Em ronda pela rua
E eu vejo as sombras por baixo
da porta.
Eu tenho medo...

O espectro de um parece confundir-se com o de

outra
E  juntos dão forma a monstros
disformes
Eu tenho medo...

Meus olhos estão acesos no meio da sala,

mas como o fogo de duas velas,
querem apagar-se.
No entanto, a vigília continua,
pois tenho que guardar bem a soleira da porta
para que as sombras não passem por ela.
Elas causam medo.

Já no enfado extremo da vigília,

levanto-me e abro a porta.
Saio para a rua e noto que
A multidão de sombras foge em disparada.
E enquanto eu passeio pelas calçadas,
sou eu quem lhes casa medo...

(LEONILDO CERQUEIRA)




"A vida é pluralidade, morte é uniformidade" (Octávio Paz)

Escreve o poeta, escreve-se um ser, dialogam diversos seres, interrogam-se outros. O leitor observa, observa-se, sente-se, chora sua dor e alegria. O cômico e o trágico se entrecruzam concedem vida ao grande teatro.


(CÁSSIA ALVES)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

AO SOM DA POESIA QUE TOCA, AO FUNDO, COMO UMA ANTIGA VITROLA (2º encontro), por Leonildo Cerqueira



Um momento para falar de POESIA, por favor! Não. Não falemos tanto esta tarde. Apenas fiquemos aqui juntos, em redor desta mesa e ouçamos este som que vem de longe, como se saísse de uma dócil vitrola. É um som que chega sutil e enche este ambiente de mistérios: o maior deles, a vida. E quem ousa decifrá-los? Contentemo-nos com seus enigmas, deixemo-nos levar por sua canção, admiremos e toquemos sem perscrutações demasiadas, apenas vivamos e fabriquemos a pedra essencial à vida, que é a Poesia! Eis, portanto, o que ouvimos da vitrola esta tarde...

 Persiste no ar uma grande dúvida
Toca a vitrola da paixão
Pessoas me ligaram mas não há problema
Se há arte, a natureza será sempre maior...

(Grupo Aliteração - 21/06/12)


Uma canção quer me levar até você
Quer me transportar
No sem-limites do amor
Me envolver numa vida
De mistérios
Me aquecer com seu calor.


As notas fui ouvindo
E apaixonada me tornei
Logo eu, que alimentada fui
Por incessantes desilusões.
Mas a partitura teve o poder
De tocar o mai profundo do meu ser.


A voz ressoou dentro do peito
A melodia - e a magia -
Atingiu meu âmago
E destroçou todas as armadilhas
Já construídas.
As grades caíram...
O dia, enfim, chegou!...
A canção já me trouxe até você.

Thais Loiola

Navegantes



Ontem, quando eu me perguntava onde estaríamos,
eu saberia dizer com precisão
a colina, o vale ou a ilha de nossos sonhos.
Mas hoje o astrolábio de minhas ideias
confunde-se
e me confunde.
Já não sei para onde vamos
Já não sei se quero mais ir.
A última tempestade fragilizara nosso mastro e a vela perdera a virilidade
Talvez consigamos seguir ainda até qualquer terra firme,
Talvez tenhamos que voltar
para de onde um dia partimos
E nesse retorno,
rever a nossa epopéia.
Como num último suspiro diante da morte,
tudo passar por sobre os olhos.
Entretanto, sigamos em frente
ou retornemos caminho,
haverá sempre ao longe, embaçada pelo nevoeiro
no horizonte de nossas vidas
uma grande esfinge
indagando-nos para sempre os seus mistérios.



Quanto a nós,
haverá choro e ranger de dentes.


Leonildo Cerqueira 


Das faculdades poéticas

A Roberto Pontes


Que pode o
                 poeta
senão dispor-se
          a despir suas substâncias
                       ao Poema?


O poeta fala carne
          engole chumbo
                        planta seda


O poeta sabe à mister
                               e a mistério


O poeta sonha
                     um metro
                            de essência


em seu limiar


risca a prata
cala o medo


tange a bala
      de sua arma
                        letal


               às vezes dedica-se
                                      ao fato


outras (detido por todos os
                    sentidos que o permeiam)


                      prende o gesto
                                fabrica a mica
                                      gera o fogo.

Daniel Óliver

Lia o conto, sorria, ria! Um riso ao mesmo tempo alegre e angustiante. Repentinamente, as bolinhas saltam do texto. Agora cercam a leitora. Com olhos estufados, parecem perguntar desesperadamente: por qual motivo ris? A leitora, num inexplicável movimento, tocou levemente as bolinhas.

Cássia Alves

POEMA CONVIDADO


ERA UMA VEZ
                    (Guilherme de Almeida)


- "Conta uma história, bem baixinho,
como um fru-fru de seda ao luar!
Conta uma história, bem baixinho,
para eu sonhar!"
- Era uma vez uma Rosa-de-Espinho...


- "Conta uma história leve, leve,
como uma espuma sôbre o mar!
Conta uma história leve, leve,
para eu pensar!"
- Era uma vez Branca-de-Neve...


- "Conta uma história bem sincera,
como uma fonte a soluçar!
Conta uma história bem sincera,
para eu lembrar!"
- Era uma vez A Bela e a Fera...


- "Conta uma história comovida
como um adeus crepuscular!
Conta uma história comovida,
para eu chorar!"
- Era uma vez... a minha vida...