Certas tardes nos envolvem na observação enebriante da paisagem de pensamentos leves, soltos e, ao mesmo tempo, complexos, condensados, amarrados.
INSONES
Esta noite parece haver pessoas
Em ronda pela rua
E eu vejo as sombras por baixo
da porta.
Eu tenho medo...
O espectro de um parece confundir-se com o de
outra
E juntos dão forma a monstros
disformes
Eu tenho medo...
Meus olhos estão acesos no meio da sala,
mas como o fogo de duas velas,
querem apagar-se.
No entanto, a vigília continua,
pois tenho que guardar bem a soleira da porta
para que as sombras não passem por ela.
Elas causam medo.
Já no enfado extremo da vigília,
levanto-me e abro a porta.
Saio para a rua e noto que
A multidão de sombras foge em disparada.
E enquanto eu passeio pelas calçadas,
sou eu quem lhes casa medo...
(LEONILDO CERQUEIRA)
"A vida é pluralidade, morte é uniformidade" (Octávio Paz)
Escreve o poeta, escreve-se um ser, dialogam diversos seres, interrogam-se outros. O leitor observa, observa-se, sente-se, chora sua dor e alegria. O cômico e o trágico se entrecruzam concedem vida ao grande teatro.
(CÁSSIA ALVES)